As antologias trazem -me um “sabor doce e prazeroso”, quando bem delineadas e recheadas de bons contos, ou no seu oposto um enorme “amargo de boca”, quando monótonas e com contos mal seleccionados. Menos frequentemente, o meio-termo.
Assim quando Elas (as antologias) são boas, são-no plenamente e perduram na nossa memória. Quando são más, caem na maior das banalidades, e só lhes resta o oblívio no capricho da nossa memória.
Penso que o maior “handicap” que acompanha uma antologia é a circularidade dos contos relativamente a um dado tema. O qual pode ser ou não torneado de acordo com a maior ou menor felicidade na escolha desse mesmo tema e/ou critérios e limitações na selecção dos contos presentes (originais ou não), pelo antologista.
Dou 3 breves exemplos de antologias editadas pela SdE, com resultados encaixados no espectro que referi mais acima ( é a minha minha opinião, claro):
A “Almanaque do Dr. Thackrey T. Lambshead de doenças Excêntricas e Desacreditadas” é uma daquelas antologias, que pese embora ter presente essa circularidade do tema, se revela verdadeiramente excepcional quer na sua concepção, quer na originalidade do tema, tornando-se um verdadeiro “clássico”.
Já a antologia “Com a Cabeça na Lua”, é duma aridez confrangedora, desinteressante, “recheada” de contos datados, e quase obsoletos narrativamente.
A meio termo entre estas duas, “Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa”, que tem a grandiosa e singular “novidade” de conter nas suas páginas de pseudo-história de pulp portuguesa trechos bem mais mais interessante que os contos em si. É pois, uma antologia bastante aceitável, e marcadamente Única, e que merece ser lida.
Esta “Lisboa no Ano 2000”, deixou-me à partida apreensivo, quer pelo tema em si, e a pretensão de “recuperar” pelo seu antologista uma visão futurista-alternativa do ano 2000, em versão pré ano 2000, concebida e escrita em 2012. Demasiado elaborado ou paradoxal? Nem por isso. A matemática tem paradoxos bem mais elaborados.
Confesso a minha saturação relativamente a temáticas catalogadas modernamente como punk, como o cyberpunk, o steampunk, o vaporpunk, o gotikpunk, o vampyropunk, o zombiepunk,etc, e agora o electropunk.
Mas lá me aventurei: o tema não parecia grande coisa, mas o antologista é um importante autor e crítico do universo do fantástico, os autores são portugueses,a "colecção Bang! já não é o que era,mas também não há mais nada no mercado nacional", vamos lá a apostar e “comprar” o que é Nosso.
Nosso (!!???).
Depois de lida a antologia não tenho duvida alguma que, e relativamente ao tema, isto foi o que de melhor se escreveu antes do ano 2000, ou em 2000, e mesmo depois de 2000, e se esgota aí.
É uma antologia tão risível, tão enfadonha, que uma semana após conclusão da leitura, e no momento em que escrevo estas palavras, dou por mim preocupado não vá ter sido contaminado pelo terrível e muito actual vírus do leitor moderno, e ter contraído a altamente contagiosa Alzheimer da literatura , já que não consigo recordar-me de um único dos contos que li, e só me resta a lembrança do penoso e esforçado que foi a sua leitura.
João Barreiros, não estás perdoado.
Uma antologia irrelevante pois,uma oportunidade perdida. Mais uma.
E é pena.