O livro de Tim Powers é perfeito para quem gosta de uma boa aventura fantástica. Na verdade, é uma grande história, com excelentes momentos de leitura, bastante diferente da grande maioria dos livros que andam por aí nas prateleiras. A fazer-me lembrar constantemente os livro da série de Patrick O´Brien, da qual li alguns e adorei. Clássicos de outros tempos que de vez em quando sabe bem.
Adorei o “saborzinho” macabro, adorei a “celebração” do insólito e desconhecido. Na verdade, as personagens a quem achei mais piada foram o Barba Negra, o Woefully Fat, o Mr Bird (“Eu não sou um cão…”

....), e o governador, para citar os exemplos mais marcantes….

Em relação às restantes personagens, confesso que não senti grande empatia, sobretudo pelos ditos “bons da fita” (neste aspeto, o “Sonho Febril do George R. R. Martin e “O Terror” de Dan Simmons foram muito mais marcantes).
Este facto, juntamente com um certo sentimento de monotonia em algumas cenas de lutas, fez com que, para mim, não fosse um livro perfeito. No caso das lutas, talvez seja porque as prefiro ver no grande ecrã, com música a “colorir”, do que ler sobre elas. Coisa de menina, provavelmente….

De resto, só tenho a apontar coisas boas. Acho que qualquer pessoa que goste de fantasia e não queira, por exemplo, meter-se me mais uma trilogia ou série, tem aqui uma excelente oportunidade de entretenimento. Mas entretenimento com pés e cabeça, bem desenvolvido, e original.
O único defeito concreto do livro (sim, porque os “senãos” que apontei são apenas fruto do meu gosto pessoal) é mesmo o Português maltratado, que não é, de todo, habitual nas edições da SdE, e do qual cito alguns exemplos (aqueles em que apontei a sua localização):
- uma frase estúpida: “
Os dedos terrivelmente alongados
dos dedos dos pés de Shandy encontraram o fundo do rio…” (p.161)
- Outra frase estúpida: “
Shandy seguiu-o, zangado consigo próprio – por um lado, porque se sentia mal em ficar de fora num desaguisado entre piratas – como uma criança que se sente mal por ter recusado um desafio tonto! –
mas, por outro lado, também por ficar de fora” (p.63)
- sobretudo, os pontapés na gramática: “Houveram amigos, uma esposa…” (p. 272); algures antes do “houveram”, também apareceu um “haviam” que não me lembro em que página estava.
Enfim, vê-se que foram lapsos e não erros por desconhecimento (o “houveram” e o “haviam”, por exemplo, não se voltaram a repetir em situações semelhantes), mas é sempre chato ver isso num livro desta qualidade.
